terça-feira, 18 de setembro de 2012

Dom Marcello Romano toma posse em Araçuaí, como bispo diocesano


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Dom Marcello Romano, bispo de Araçuaí, e dom João Bosco Óliver de Faria, arcebispo de Diamantina.
Detalhe: Homilia na missa de posse.
Excelentíssimos Senhores Arcebispos e Bispos, caríssimos Presbíteros, Religiosos, consagradas, Seminaristas, Coordenadores de pastorais, movimentos apostólicos e comunidades, representantes de Igrejas cristãs e de outras religiões, autoridades civis e militares, meus queridos familiares, amigos e todo o povo de Deus aqui presente na Igreja Particular de Araçuaí.
“FAZER O AMOR SER AMADO” Escolhi este pensamento de inspiração franciscana para orientar o meu ministério episcopal. Em I João 4.8,16 lemos: “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor…” Quem escreve sobre isso é o apóstolo João. Muitos veem nele o discípulo amado do Evangelho e, por isso mesmo, ficou conhecido como o discípulo do amor, uma vez que esse assunto está sempre presente em seus escritos.
Na verdade, ele traz aqui uma “definição” de Deus: Deus é amor e, por Ser Amor, naturalmente Ele se expressa amando. E o Amorque é Deus se manifestou em sua plenitude na pessoa de Jesus Cristo. Dessa maneira toda a vida de Jesus, desde a encarnação, passando pelo lava-pés e a Eucaristia é expressão concreta do modo de Deus amar. Porém, foi especialmente ao entregar a sua vida na Cruz, de modo incondicional e gratuito, que Jesus, o Filho Amado de Deus, revelou à humanidade que Deus é essencialmente AMOR.
E nós cremos no amor de Deus— deste modo é que podemos, como cristãos, exprimir aquela que deve ser a opção fundamental da nossa vida: AMAR.
A Eucaristia que celebramos é memória da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Ele é o Messias, mestre, profeta e revelador do projeto de Deus. Sua missão é marcada pelo sofrimento, morte e ressurreição, com os quais destrói a sociedade injusta que devora vidas humanas. Jesus é o Messias que chama as pessoas ao compromisso com seu projeto. Projeto de Amor, que se traduz em vida abundante para todos. Ser discípulo dele é fazer as mesmas coisas que ele fez para libertar o mundo do egoísmo e da ganância que empobrecem a existência, tiram a liberdade e matam as esperanças.  Por isso, celebrar não é só fazer memória das ações libertadoras do Messias, masatualizá-las na nossa prática concreta, pois a fé sem as obras é morta. À medida que celebramos, vamos crescendo na consciência de que o projeto de Deus nos chama ao compromisso.
O Evangelho de Marcos, que nos foi proclamado hoje, procura levar as pessoas ao reconhecimento de que Jesus é o Messias. E explicitarque tipo de Messias é Jesus. A partir do momento em que os discípulos, na pessoa de Pedro, reconhecem que Jesus é o Messias, inicia uma nova etapa, na qual o Mestre se dedica a mostrar aos discípulos o significado de sua missão e a provocá-los a um compromisso maior com Ele e com sua causa.
A missão de Jesus é marcada pelo conflito com os poderes que geram a morte. Ele tem consciência de que vai sofrer muito. Não se trata de um fatalismo ao qual Jesus e seus seguidores devam se submeter cegamente. Pelo contrário, é a consciência de que o enfrentamento com os poderes que geram a morte é inevitável. A decisão de Jesus – e que também deve ser a de seus seguidores – é a mesma dos profetas. Ele vai enfrentar as estruturas de morte, desafiando o poder econômico, político, religioso e ideológico de seu tempo. E as enfrentará na condição de "Filho do Homem", ou seja, na sua fragilidade humana, sem recursos extraordinários vindos do alto ou de fora. Portanto, de modo contrastante com os planos de Pedro, que continua cego. Pedro reúne todas as esperanças populares na chegada de um líder político restaurador da realeza em Israel, um “salvador da Pátria”, como nós dizemos hoje.
Conhecendo quem é Jesus e que tipo de Messias ele é, entendemos tambémo que significa ser discípulo de Jesus. Três condições são necessárias para ser discípulo do Messias que enfrenta as estruturas de morte: renunciar a si mesmo, tomar a cruz e seguir Jesus.  1) Renunciar a si mesmo significa renunciar a toda ambição pessoal. Em outras palavras, é ser despojado e disponível, sem apegos e livre,rompendo definitivamente com a sociedade que vai matar Jesus. 2) Tomar a cruz é estar disposto a fazer da vida um dom aos irmãos, não vivendo para si mesmo, mas para Ele, que por nós morreu e ressuscitou, e para os outros. A cruz, a partir de Jesus, se torna sinal do amor-doação, de vida livremente oferecida, vida entregue. 3) Seguir a Jesus é aceitar ir com ele até o fim, enfrentando todas as hostilidades da sociedade injusta e opressora que levou Jesus à morte. É dar a Ele a adesão incondicional do nosso coração. Concretamente, isso significa "perder a vida". Mas Jesus garante: quem perde assim a vida irá encontrá-la, pois ele ressuscitou e é o Senhor da vida.
Como cristãos, primeiramente, e como pastores do povo de Deus, nós somos essencialmente seguidores de Jesus Cristo. Seguimento de Cristo que é um aprendizado e que marca toda a nossa existência. Seguimento, que é um processo contínuo de conversão, que começa no encontro pessoal com Ele, e se fortalece na decisão de nos colocarmos como seus discípulos missionários, a caminho do serviço do Reino de Deus e de sua justiça.Como afirmou o papa Bento XVI na Encíclica “Deus Caritas est”: “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”.
Ora, “nosso ministério é uma entrega total e radical na busca do Amado, e ao encontrá-lO, nós O comunicamos ao mundo. Esseencontro imprime em nós marcas profundas, com as quais o Senhor nos consagra. É Deus quem nos consagra e essa consagração é sermos transformados na pessoa de Cristo.” Segundo aexpressão de São João Maria Vianney: “o sacerdócio é o amor do coração de Jesus”. Esta é a nossa identidade.
Na liturgia da Igreja, na sua oração, na comunidade viva dos fiéis, nós experimentamos o Amor de Deus, sentimos a sua presença e aprendemos deste modo também a reconhecê-la na nossa vida quotidiana. Ele amou-nos primeiro, e continua a ser o primeiro a amar-nos; por isso, também nós podemos responder com o amor. Ele nos ama, faz-nos ver e experimentar o seu amor, e desta « antecipação » de Deus pode brotar, como resposta, nosso amor pelos irmãos e irmãs, resposta ao dom do Amor com que Deus vem ao nosso encontro.
São Francisco de Assis dizia: “como as pessoas podem se amar umas às outras, se não amam o Amor? O Amor não é amado”. E o amor não é amado nas periferias e nas prisões, nos hospitais e nos asilos, nos sem trabalho e sem salário digno, nos migrantes e no trabalho escravo, nos sem moradia, nos sem terra e sem água, nos explorados pela indústria da seca, nos excluídos do banquete da vida. Portanto, é preciso “fazer o Amor ser amado”.
Só a minha disponibilidade para ir ao encontro do próximo e demonstrar-lhe amor através de gestos concretos, do serviço, do perdão, da partilha, do acolhimento, do respeito, da solidariedade, é que me torna sensível também diante de Deus. Só o serviço ao próximo é que abre os meus olhos para aquilo queDeus faz por mim e para omodo como Ele me ama. Tendo consciência de que sou amado por Deus assim, quero que outros também façam essa experiência. Precisamos ir ao encontro dos afastados, daqueles que estão marginalizados, esquecidos ou abandonados.
Por isso venho até vocês nas pegadas de Francisco de Assis. Venho como irmão menor, com alegria, fé e esperança na minha bagagem, sem pretensões ou ambições, sem planos ou respostas prontas. Venho para servir e caminhar junto com cada irmão e irmã de nossa Diocese. Venho para anunciar o amor de Nosso Senhor Jesus Cristo por todos. Com Nossa Senhora da Lapa, quero exercer o meu ministério episcopal como um “serviço de amor”, sendo Pai, Pastor, Irmão e Amigo. Aqui estou de coração e braços abertos para acolher, ouvir, dialogar... Quero chegar ao coração de todos, de modo especial dos sofredores e pobres, dos doentes e encarcerados, para que jamais se sintam esquecidos ou abandonados por Deus. Eles precisam sentir o Amor de Deus através de nosso amor por eles.
Sei que ser bispo não é uma honra, nem privilégio ou prestígio. É missão, é serviço. E é meu desejo trabalhar pela comunhão, pela unidade e participação de todos em nossa Diocese, respeitando as diferenças e a realidade de cada pessoa e de cada comunidade.
É meu desejo trabalhar por uma ação evangelizadora que promova a vida, que resgate a dignidade das pessoas, que devolva a esperança, mas que também conduza sempre mais à santidade. Quero também que o meu ministério seja um “serviço à Esperança” neste mundo de tantos desencantos, onde a utopia perdeu a sua força inspiradora. A esperança é para a alma o mesmo que a chuva para a terra. Sem esperança nos tornamos criaturas tristes, de alma ressequida.
Sei que os desafios serão muitos. Mas aprendi com meu pai, um imigrante napolitano, que veio para o Brasil em busca de nova terra, a não temer desafios, pelo contrário, aprendi a ver neles oportunidades, um estímulo para a caminhada, uma forja onde se tempera o espírito e o caráter. Por isso, conto com o trabalho de cada pastoral, movimento, irmandade e ministérios diversos e, sobretudo, com a força dos jovens.
Como Igreja missionária precisamos sempre avançar para as águas mais profundas – sem medos – em busca de tantos destinatários do Evangelho. Mais do que antes, hoje, a Igreja precisa ir ao povo. Por isso mesmo desejo ser um bispo missionário, visitando paróquias, comunidades e famílias. Quero ser no meio de vocês, peregrino, viandante, caminheiro. Não quero ser um bispo “residencial”, estabelecido como um Senhor em seu palácio, preocupado com a disciplina dos sacramentos ou a administração dos bens da Igreja, apenas.
Como bispo sou o primeiro responsável pela Missãoportador primordial da Palavra, sinal de unidade e universalidade, facilitador da comunhão e animador das comunidades. “O bispo é o guardião da Igreja e o primeiro responsávelpela qualidade da fé que aí se encontraEspero que os padres não entendam essa minha disposição como ingerência inconveniente nas paróquias. Mas sim como presença do pastor a quem foi confiado o cuidado do rebanho, da porção do povo de Deus, que é a Diocese toda, e da qual, cada Paróquia faz parte. Auxiliem-me no meu ministério. Ajudem-me a ser o bispo que vocês desejam ter. Corrijam-me quando necessário. E se eu for resistente, difícil, por favor, não desistam de mim. Zelemos juntos pelo anúncio do Evangelho, pela Liturgia, pela Fé e pelo testemunho da caridade.
Pretendo dar uma especial atenção à Pastoral Vocacional. Não a pastoral vocacional que visa apenas padres e freiras, mas atenta a todas as necessidades da Igreja, portanto, Pastoral Vocacional aberta a todas as Inspirações de Deus, que reconheça carismas e incentive as pessoas nos diversos serviços, para a construção de uma Igreja toda ministerial.
Convoco todas as pastorais e movimentos, irmandades e ministérios para que, juntos com o Bispo, na força do Espírito, renovemos as estruturas, construindo uma Igreja de irmãos e servidores, conforme nos pede o Documento de Aparecida.
Permitam-me, depois de ter me alongado tanto, fazer ainda um agradecimento especial ao Pe. Fabrízzio e aos membros do Colégio dos Consultores, pelo zelo e carinho com que cuidaram de nossa Diocese nesse período de vacância. Vou precisar muito ainda do auxílio de vocês todos.
Meus sinceros agradecimentos a todos vocês aqui presentes hoje: aos irmãos no episcopado, aos padres, seminaristas, religiosos e consagradas, agentes de pastoral, autoridades civis e militares, aos meus familiares, às caravanas, que vieram dos mais diversos lugares, às equipes de serviço, aos grupos que tornaram mais bonita a nossa festa. 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

+ Marcello Romano
Bispo Diocesano de Araçuaí (MG)

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