O tempo vigente sustenta-se em paradigmas antagônicos desde a década de 1960 à de 80. Esses novos paradigmas são novos para quem os viu surgir, mas são referenciais dominantes para os que já nasceram e vivem em sua plena vigência. A sociedade é dinâmica e movente e está em constante transformação. Esses novos referenciais tendem a se reconfigurar, tornando-se igualmente anacrônicos, para a geração seguinte, em um ciclo infinito.
A Mídia é uma grande incentivadora das tendências dissolventes dos valores elevados da cultura humana. Isso se dá, nos diversos segmentos midiáticos: televisão, revistas, jornais e internet. Constantemente elas derramam na massa social a ideia de que está na moda o ato de se “ficar” com várias pessoas, sem que mantenha vínculo duradouro com ninguém, uma vez que assim, segundo os critérios dessa moral de consumo, aplicada na dinâmica amorosa, amplia-se a quantidade de experiências afetivas sem levar em consideração sua profundidade.
Conversando com jovens e adolescentes acerca desta temática, percebe-se que o "ficar" pode ser oriundo de uma tentativa sincera de "acertar" o parceiro com quem se dividirá a bela e dolorosa jornada pela vida afora ou, mais comumente, fruto de um sistema e um tempo que transforma até mesmo as pessoas em objeto de uso e trocas mercantis. Tudo isso é fruto de uma ideologia na qual já crescemos envoltos, e necessita de um distanciamento crítico para superar esta tendência. Não se pretende aqui criticar, evidentemente, quem busca com sinceridade de coração "acertar" e sabemos sobejamente como isto é difícil no mundo em que o equívoco prima sobre o unívoco.
A pós-modernidade caracteriza-se como uma sociedade marcada pelo consumismo e tantas outras vertentes que tornam o homem cada vez mais desligado dos valores ensinados no passado. Assim, para além de um consumo de mercadorias (objetos inanimados), os indivíduos da sociedade líquido-moderna tem avassaladoramente transformado o corpo em um bem supremo, em objeto de consumo.
As relações amorosas estão hoje entre os dilemas mais penosos com que o ser humano precisa confrontar e solucionar. Nestes tempos líquidos, é mister, mais do que nunca, a ajuda de um companheiro leal: “até que a morte nos separe”. Nos dias de hoje isso não é mais um imperativo ou uma norma-guia para casais. Compromissos de tempo determinado ameaçam frustrar e atrapalhar as mudanças que um futuro longínquo, desconhecido e imprevisível pode exigir. Porém, sem compromisso, fidelidade e disposição para com o outro, não se pode pensar num amor verdadeiro. Deste modo, a fórmula “até que a morte nos separe” dá lugar a uma forma mais atual: “até que o outro nos separe”. Tudo isso construído sobre a base inconsistente de um poema: “que seja eterno enquanto durar”.
Muito se vê em eventos ou festas, pessoas que sem nunca terem visto antes, se conhecem e imediatamente contratam o local da “noitada” de amor ilimitado. Ambos não querem se comprometer, mas querem simplesmente curtir aquele momento, já pensando que a próxima experiência de amor será mais estimulante, mas não tanto a próxima que ainda pode vir a acontecer. Existem muitos eventos assim: micaretas, carnavais, baladas, dentre muitos outros lugares. Aí, os valores da sociedade temporariamente são esquecidos, abrindo espaço à “novos” valores mais condizentes com o ambiente. E se os valores da sociedade são esquecidos, bem mais esquecidos são os valores Evangélicos, ensinado e vivido por Jesus.
Em suma, o ser humano necessita transcender a realidade que o cerca. Tendo o pleno uso da razão, é necessário um distanciamento crítico da realidade. Para a superação da descartabilidade da vida, se lhe oponham os valores da solidariedade, da compreensão recíproca e do amor, em torno de um “ethos” de transparência entre os indivíduos.
Hedivan Júnior - Seminarista da Paróquia Nossa Senhora do
Perpétuo socorro e São Sebastião, Ponto dos Volantes, Diocese de Araçuaí e está
cursando Teologia no Seminário Nossa Senhora do Rosário - Caratinga. http://www.diocesedearacuai.com.br/n/artigo/ficar-ou-nao-ficar-eis-a-questao
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